Sabores que Curam: A Alma da China em Cada Refeição

Se tem algo que a China já me ensinou nesses poucos dias, é que a comida aqui vai muito além de matar a fome. Ela nutre, mas de um jeito profundo. Nutre o corpo, a alma e, principalmente, a conexão entre as pessoas. Cada refeição é um gesto de carinho, uma demonstração de cuidado, uma celebração silenciosa da vida.

Desde que cheguei, tenho experimentado uma diversidade de sabores indescritíveis. Em cada prato, percebo uma combinação harmoniosa dos princípios da Medicina Tradicional Chinesa. Não é apenas sobre comer, é sobre restaurar o equilíbrio entre o Yin e o Yang, alinhar os cinco elementos e, de alguma forma, encontrar a harmonia entre o corpo e o universo. Sinto que a alimentação aqui carrega a sabedoria de milhares de anos, e isso ressoa profundamente em mim.

As sopas quentes, as carnes tenras – de boi, porco, pato, peixe, frutos do mar –, os cogumelos com texturas tão diferentes… A cada porção que pego com os **hashi**, uma nova sensação emerge. Os sabores doce, azedo, amargo, picante e salgado se entrelaçam de um jeito que ainda não consigo compreender completamente. O paladar tenta buscar alguma referência familiar, mas a verdade é que estou em um território completamente novo – e isso é mágico. Sinto que a comida é uma espécie de medicina silenciosa, um remédio tanto para o corpo quanto para a alma.

Por mais que eu me esforce, ainda não consegui descobrir o nome de muitos pratos. Mas quer saber? Talvez nem seja necessário. O mais importante não são os nomes, mas sim a experiência que cada comida desperta em mim. Essa alimentação parece estar tão integrada à sabedoria milenar que ressoa no próprio campo energético da China, como se fosse parte da essência do país.

O que mais me fascina é o cuidado e a receptividade com que somos servidos. Cada refeição é um banquete, uma explosão de sabores. Me sinto transportada para os almoços na casa da minha avó em Minas, onde o prazer dela era ver as visitas se deliciarem com a comida que preparava. Aqui, sinto a mesma alegria no ar. Eles nos observam provar cada prato com um olhar de expectativa, como se o prazer deles estivesse na nossa satisfação. Isso, para mim, é o auge da hospitalidade: servir com amor e ver a alegria nas pequenas descobertas. Não é só sobre comer, é sobre conectar.

Agora, falando em refeições, preciso confessar: eu pensava que sabia o que era “café da manhã de rainha”… Que ilusão! O café da manhã aqui é um verdadeiro almoço! Sopas, proteínas, verduras… Uma refeição completa, robusta, capaz de sustentar o corpo por horas. E o que dizer dos chás? Estão sempre à disposição, como um abraço quente em forma de bebida, disponíveis em qualquer lugar – até no meu quarto, onde tenho tudo o que preciso para preparar uma xícara de chá a qualquer momento. É reconfortante de um jeito que palavras não conseguem descrever.

Uma observação curiosa: até agora, não vi chineses obesos. Essa alimentação equilibrada parece ser a chave para a saúde e longevidade. E tenho um exemplo disso bem próximo. As três mulheres que nos acompanham – Tulip, Eudora e Olivia – têm rostos jovens e radiantes, mas garantem que são muito mais velhas do que aparentam. Fico admirada com a vitalidade que emana delas. Mesmo lidando com os efeitos do jet lag, já começo a sentir em mim uma mudança. Meu corpo está respondendo a essa alimentação: meu trânsito intestinal está funcionando melhor, e a minha disposição aumenta a cada dia.

Na próxima semana, vamos para o interior. Estou curiosa para descobrir novos sabores e, quem sabe, uma nova perspectiva dessa rica cultura gastronômica, que vai muito além do simples ato de comer. É um verdadeiro encontro com a saúde, o bem-estar e, claro, o amor em cada detalhe. E sim, vou compartilhar tudo com vocês!